Estudar é como cozinhar: precisa de fogo lento e um descanso para dar um bom resultado.
Assim como um bom feijão, uma carne de panela, uma tortilla, o estudo requer dedicação, paciência, bons ingredientes, recursos e tempo. E que o cozinheiro (assim como quem aprende) esteja ali abrindo a tampa da panela de vez em quando, sentindo o cheiro da comida e experimentando.
Relendo o David A. Sousa no How The Brain Learns comprovei que estudar todos os dias do mesmo jeito, horas e horas a fio, além de chato, é improdutivo. Inclusive para prestar concurso público!
Estudar – descansar – estudar
Aprendi que o ideal para que o cérebro entenda e absorva as informações que recebeu é 1)estudar, 2)descansar e 3)voltar a ver o tema depois de 24 horas. Ou seja: tenho aula hoje, amanhã descanso do assunto, e depois de amanhã volto a vê-lo.
Pegando um exemplo prático: se hoje estudo um tempo verbal de um idioma, amanhã não retomo o assunto. Entretanto, não há razão para desconectar totalmente do idioma.
Há muitas alternativas para aprender sem ser revisar ou continuar com o visto na última aula. Falando do aprendizado de idiomas, posso ouvir música, assistir um filme, ir a uma exposição, fazer conversação, e no dia seguinte voltar ao tema estudado. Desde que eu goste do tema, ou me divirta com o que estou estudando.
Ou seja: retomo a memória a curto prazo e confirmo se realmente assimilei, usando o aprendido em contexto, fazendo exercícios, cometendo erros e corrigindo-os. Então ativa-se a memória a longo prazo, e será quando absorverei a informação, ao repetir o que aprendi com pouca ou nenhuma ajuda da teoria.
Aprender com vontade sempre é mais gostoso
Contudo, nada disso tem fundamento se o que se aprende não faz sentido para quem aprende.
Esta semana, conversando com a Fernanda, uma amiga psicanalista que trabalha com adolescentes, surgiu o tema do aprendizado significativo.
Confabulávamos sobre como incentivar os alunos adolescentes a desenvolverem o pensamento reflexivo, e os temas que se encaixam mais nas dinâmicas de grupo, ou mesmo como aulas.
Há escolas que passam os temas já prontos, e muitas vezes os alunos não estão interessados no que o currículo propõe. Então cabe ao professor descobrir o que mais interessa aos alunos. Como? Perguntando, oras. Observando, “lendo” nas respostas, checando se é aquilo mesmo que ele entendeu… o caminho é mais fácil do que muitos imaginam. Os alunos têm todas as respostas. Basta escutar ativamente, com a mente aberta e ativa. A partir daí pode-se incluir outros assuntos que não faziam parte do seu mundo até então.
Você quando aprende costuma dizer ao seu professor ou instrutor sobre as coisas que gosta ou gostaria de ver? E se não é o caso de dizer, costuma procurar informação sobre temas que curte no contexto do aprendizado?
Tudo isto está muito teórico, né? Vamos ao exemplo: estou aprendendo francês, este é meu terceiro ano. O que eu faço além das aulas para conectar com o idioma? Uso o Duolingo para reforçar vocabulário e ouço o podcast La sélection Soul Rn’B da rádio Le Mouv (mesmo eles tendo finalizado a emissão em junho/2016). Sabe por quê? Porque para mim é um prazer ouvir música, e nesse podcast só tem soul e rhythm and blues, estilos que simplesmente a-d-o-r-o!
Quando a gente aprende algo que gosta, aprende mais fácil. E quando o que se aprende faz sentido, é o que eu chamo da mágica do aprendizado. É tão gostoso quando acontece!
Se aplica em todas as idades, e para aprender qualquer coisa: cozinhar a fogo lento, dirigir, aprender uma nova língua, dançar, tocar um instrumento. O aprendizado significativo fica guardado na memória emocional.
Modelo de processamento de informação
Foto escaneada do meu exemplar de How the Brain Learns.
No livro o David A. Sousa fala do modelo de processamento da informação, e diz que no ambiente temos diferentes formas de receber informação (através dos 5 sentidos: visão, audição, toque, olfato e paladar), tudo vai para a memória imediata, que só é processada em um determinado tempo, e que o aprendizado não ocorre se não tiver sentido para quem aprende.
Tradução livre do texto da imagem
O modelo de processamento da informação representa uma explicação simplificada de como o cérebro lida com informação do ambiente. A informação dos sentidos passar por um registro sensorial para a memória imediata e então para a memória operacional para o processo consciente. Se a pessoa que aprende conecta sentido e significado ao aprendizado, é muito provável que este seja armazenado. O autoconceito normalmente determina quanta atenção a pessoa que aprende dará à nova informação.
Sobre autoconceito falarei num outro post.
Assim como há receitas que precisam de fogo lento para ficarem boas, um aprendizado com paciência, tempo, dedicação e sentido, também melhora com o passar do tempo.
Você já aprendeu algo que realmente internalizou porque gostava do que estava aprendendo? Já sentiu que aprendeu mais fácil quando vivenciou o que aprendia?
O meu exemplo é o de cozinhar. Muitas vezes sei a teoria, mas aprendo realmente quando cozinho, uso os truques já feitos, para me encantar com os resultados. Isso sim, requer um certo querer que vai além da correria.
Compartilhe sua experiência!
Boa semana e um bom aprender a você!
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Eula Amorim
Amei a comparação entre o estudo e cozinhar. Amo cozinhar e nunca pensei dessa forma.
Parabéns!!!
Cristina Pacino
Oi Eula, obrigada!
Que bom que você gostou.
Sabe como pensei nesse post? Cozinhando… 😀
Um abraço!