Sair do trabalho atual para fazer o que você sabe e gosta por conta própria, em casa ou onde quiser, sem chefe, organizando seu tempo e ainda ganhando dinheiro. A quem não lhe parece a fórmula perfeita, no mínimo apetitosa?
Vivemos um momento em que mais e mais pessoas, de estagiários a CEOs, percebem que trabalhar 40 horas semanais tem seu preço, muitas vezes traduzido em tempo – irrecuperável com o salário, e veem a atividade freelance ou autônomo como o caminho para uma vida mais equilibrada e com sentido pessoal-profissional diferente.
A opção de tomar as rédeas da sua carreira, a oportunidade de ganhar mais sem ter que esperar a avaliação de desempenho anual, a chance de dizer não a algum trabalho que não quer fazer, flexibilidade horária, poder conciliar seus horários com os dos filhos, estar mais em casa, todos são motivos válidos pelos que muitos pedem demissão e começam seu projeto independente.
Mas, será que compensa? Ser autônomo é um desafio, por várias razões, que vai da tentação da distração ao controle de fluxo de caixa.
Há 4 anos dei o passo e montei meu escritório em casa, onde faço traduções e dou aulas por Skype, além de preparar as aulas para os diferentes lugares onde leciono, e estou muito satisfeita em todos os sentidos, principalmente com meu rendimento e as condições de trabalho. Tento manter uma certa rotina e hábitos que não eram necessários ao trabalhar como funcionária de empresa, e em linhas gerais têm dado bons resultados.
Gostaria de compartilhar aqui alguns pontos que me parecem condição básica para não nos enganarmos na empreitada. Me acompanha?
A palavra autônomo vem do grego αυτόνομος,
composto por αυτό– (auto- = próprio, mesmo) e νόμος (nomos= lei).
# 1. Inícios
Em primeiro lugar, vale a pena pensar se o tipo de negócio que se quer implementar não pode ser, pelo menos ao princípio, compaginado com o trabalho atual. Serão horas extras de atividade laboral, mas para benefício próprio, então o esforço sempre compensa.
No meu caso fiquei 3 anos dando aulas antes de entrar no escritório (entre 7:30-8:30) e depois de sair (entre 20-21h), com isso fui adquirindo experiência pouco a pouco.
# 2. Organização
Dependendo do ramo, você será o único responsável pelo seu negócio. Dá um frio na barriga quando você começa a listar as tarefas fixas que tem ao mês, e as que terá que administrar conforme for desenvolvendo seus projetos.
Se você for desorganizado, muito provavelmente ficará desesperado e os sonhos podem ir por água abaixo com o mínimo obstáculo. Listas, checklists, agendas, “to do’s”, não importa seu método, contanto que se organize. É sem sombra de dúvida o primeiro fator para progredir no empreendimento.
# 3. Autonomia
Sair de um ambiente onde você sente sua criatividade tolhida por uma política de empresa controladora é realmente genial! Porém, às vezes o profissional terá que lidar com clientes e fornecedores controladores, e exigentes.
Para minimizar a possibilidade de desentendimentos, deixar as condições claras desde o princípio facilita as coisas para ambos lados. Ajuda a gestionar expectativas profissionais e proteger a ambas partes.
# 4. Controle do tempo
O autônomo é o responsável pela gestão do seu tempo. Às vezes pode acontecer de ter clientes em outros países (no meu caso tenho no Brasil, Israel, Suíça, Inglaterra, Estados Unidos) com diferença de fuso horário. Também acontece de ter reuniões depois das 18h.
Uma vez li que “ser dono do próprio negócio é trocar 40h de trabalho no escritório por 80 em casa”. Concordo. E se o autônomo começar a dominar sua agenda, saberá que é possível fazer muitas coisas em horários “normais”, quando a maioria das pessoas está ativa, e que essas 80 horas podem voltar a ser 40.
Freelance – a palavra deriva do termo medieval inglês usado para mercenário
(free-independente e lance-lança), um cavaleiro que não servia
a nenhum senhor em concreto, cujos serviços podiam ser contratados por qualquer pessoa.
# 5. Estabelecer horários e rotinas
Saber quando começar e quando terminar dá muita tranquilidade e oferece resultados produtivos.
Não é porque seu local de trabalho é uma sala na sua casa que você tem que ligar a TV ou sair para comprar algo só porque “está por aqui mesmo, então aproveita”.
Pensar em horários mais proveitosos, e executar. Despertar a disciplina, foco e força de vontade ajuda, e muito.
# 6. Eliminar as distrações eletrônicas
Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp. Quando estiver executando uma tarefa, é sempre bom deixar o telefone em modo avião ou em silêncio, sem vibrar e com a tela virada para a mesa. Sem dúvida alguma se consegue terminar uma tarefa em menos tempo do que se imagina.
# 7. Comunicação clara
Informar e acostumar os clientes e fornecedores a uns horários razoáveis para todos. Se seu negócio não funciona aos sábados, o autônomo não tem por quê responder mensagens ou atender pedidos no seu dia de descanso, ou em horários excepcionais. A tendência é a exceção virar regra.
# 8. Orçamento
O autônomo tem que estar preparado para ter menos entrada de dinheiro, pelo menos ao princípio, até se estabelecer. Ter um pé de meia assegura tranquilidade ao cabo de uns meses de investimento.
Além disso, a mecânica de controle de fluxo de caixa muda muito quando se é dono do próprio negócio. Custos fixos, despesas e receita vão ser entendidos direitinho, mesmo que não os chamemos pelos seus nomes corretos. O autônomo sabe perfeitamente quando poderá permitir-se um que outro luxo extra porque coordena os números bem de pertinho.
# 9. Compromisso social-profissional
Como o autônomo tem seu escritório em casa, está super conectado às redes sociais e se comunica com todo o mundo do seu setor, não precisa nem se preocupar com contatos pessoais. Reuniões, almoços, cafés são uma tremenda perda de tempo. Pois é… se o profissional autônomo pensar (e agir) assim, seus dias de glória estarão contados.
# 10. Captação de clientes
Sem entrar no âmbito da crise, mesmo que na empresa anterior pudesse ser relativamente fácil conseguir um novo cliente, o autônomo depende sozinho de muitos fatores para conseguir clientes e manter os já existentes: marca pessoal, empatia, qualidade dos serviços/produtos, muitas vezes preço.
# 11. Estresse
Dizem que o autônomo não tem estresse. Não é verdade. Cada um tem o estresse que a pressão do trabalho traz, entretanto cada qual o gestiona de maneira diferente. Estressar-se não tem por que ser negativo.
# 12. Rentabilidade
Ganhar dinheiro rápido é uma ideia muito atraente. Ter um planejamento de payback também. Fazer um trabalho bem feito e com o tempo ganhar a confiança dos clientes e ser recomendado, isso sim é gratificante e rentável a longo prazo.
Em suma, considero que dar o passo com um mínimo de segurança ao ter um plano elaborado e uns meses de respaldo econômico é mais ameno para quem começa. Colocar uma boa dose de amor no que se faz é condição sine qua non para qualquer projeto funcionar. Se compensa? Penso que sim, mesmo não dando certo, a experiência já vale. A minha primeira vez foi um fracasso. Contudo, aprendi muito.
Espero que as opiniões aqui refletidas possam servir de inspiração ao novo empreendedor e que seus negócios tenham muito sucesso!
Alguma sugestão para enriquecer o post?
Glossário
Tomar as rédeas: assumir a direção, o governo, o poder.
Chance: ocasião, oportunidade.
Enganar-se: equivocar-se, cometer erro involuntário.
Empreitada: tarefa, trabalho.
Ramo: setor, área, indústria.
Aproveitar: tornar proveitoso, utilizar.
Mercenário: (latim mercenarius, -a, -um, assalariado, alugado, pago, comprado) – que ou aquele que trabalha, ou serve, por dinheiro; que ou quem é movido apenas pelo interesse pessoal e material. = interesseiro.
Bem de pertinho: bem = célula de realce que significa muito. Pertinho = palavra no diminutivo que dá ideia de realce, o mesmo que muito perto. Bem de pertinho = extremamente perto.
Payback: recuperação do investimento.
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