Numa dessas minhas andanças pelos podcasts, descobri um gênio brasileiro. Nunca é tarde para conhecer as coisas boas. Ele é um prodígio, que merece todo um post: o Riachão.
Clementino Rodriguez, o Riachão, vai fazer 94 anos no dia 14 de novembro. Cantor e compositor de Salvador/BA, apelidado de “cronista musical”. Suas músicas, são na grande maioria “causos” transformados em músicas, algumas por sinal, muito engraçadas. Até as músicas feitas com a pretensão de serem românticas (em homenagem a sua idolatrada esposa Dalvinha), tem uma pitada de inocência e molecagem.
O apelido Riachão ganhou ainda na adolescência, explica: “Quando menino, eu gostava muito de brigar. Mal acabava uma peleja, já estava eu disputando outra. E aí chegavam os mais velhos para apartar, empregando aquele ditado popular: você é algum riachão que não se possa atravessar”. (fonte Wikipedia)
Como curiosidade linguística, destaco a sua forma de falar. Ele tem o sotaque bem diferente de outros soteropolitanos, menos arrastado-característico da Bahia que estamos acostumados a ouvir. A pronúncia dos 2 ERRES ele faz como os gaúchos, mato-grossenses ou como os paulistas de algumas gerações atrás. (por favor, corrijam-me leitores nascidos desses lugares). Ele é das antigas.
Clique no link para ouvir a música e acompanhe com a letra abaixo:
Camisinha
Arranjei uma namorada na banda do norte
A menina era de morte, era bonitinha
Me disse: se quiser fazer amor com ela
Você tem que arranjar também a camisinha.Você que ouve no rádio o ano inteiro
E também no estrangeiro e na televisão
Fica insistindo com a sua teimosia
No corpo de Maria, sem camisa não
Fica insistindo com a sua teimosia
No corpo de Maria, sem camisa não!
Essa figurinha carimbada e carismática ficou conhecida por duas música emblemáticas no Brasil:
- Vá morar com o diabo
E se pra você essa música não é estranha, escute-a na voz da Cássia Eller.
Vá morar com o diabo
Ai, meu Deus, ai, meu Deus o que é que há
Ai, meu Deus, ai, meu Deus o que é que háA nega lá em casa não quer trabalhar
Se a panela tá suja, ela não quer lavar
Quer comer engordurado, não quer cozinhar
Se a roupa está lavada, não quer engomar
Se o lixo está no canto, não quer apanhar
Pra varrer o barracão, eu tenho que pagar
Se ela deita de um lado, não quer se virar
A esteira que ela dorme, não quer enrolar
Quer agora um cadilac para passearEla quer me ver bem mal
Vá morar com o diabo que é imortal
Ela quer me ver bem mal
vá morar com o sete pele, que é imortal
- Cada macaco no seu galho
Cada macaco no seu galho
Xô xuá, cada macaco no seu galho
Xô xuá, eu não me canso de falar
Xô xuá, o meu galho é na Bahia
Xô xuá, o seu é em outro lugarNão se aborreça moço da cabeça grande
Você vem não sei de onde
Fica aqui não vai pra lá
Esse negócio da mãe preta ser leitera
Já encheu sua mamadeira
Vá mamar noutro lugar
Riachão por ele mesmo
E para terminar, o filme imperdível Samba Riachão:
Glossário:
Riacho: pequeno rio.
Soteropolitano: natural ou habitante de Salvador, capital do Estado da Bahia.
Figurinha carimbada: pessoa única e especial. A expressão “figurinha carimbada” surgiu em função de álbuns de figurinha que davam prêmios, muito comuns nos anos 1960, terem alguns cromos, distribuídos em menor quantidade e, portanto, mais difíceis de obter, distinguidos dos demais por um carimbo. Daí uma “figurinha difícil” ser uma “figurinha carimbada”. E, além das figurinhas carimbadas, para completar o álbum e ganhar o prêmio principal, era necessário conseguir a “figurinha chave”.
evaarias74
Nossa!!, neguinho irrepetível, adorei!!; O seu charme é demais.
Eu gostaría de resenhar um comentário feito no filme: “(…) no Brasil só existem duas coisas organizadas: a bagunça e o carnaval.”. Não é?. 🙂
Cristina Pacino
Dá vontade de dar um abração nele, não dá?
Tem também outra coisa organizada no Brasil, que não está escrita em nenhum lugar, acontece sem data marcada, nem é combinado com ninguém: a esperança de que tudo vai melhorar. Nunca vi gente tão cheia de fé!
Bjo!