Passa lá em casa é uma expressão brasileiríssima que dizemos quando queremos nos despedir de alguém e deixamos no ar um “vago compromisso” para que um dia voltemos a nos encontrar. E o encontro nunca acontecerá. Estrangeiros, não levar a expressão ao pé da letra, tá? Por mais estranho que possa parecer, é uma mera formalidade.
Com essa expressão quero dividir uma surpresa muito agradável: por causa de um bate-papo informal entre amigas que se passam receitas, saímos no Blog da Gavioli. A Claudia, que organiza o Lá em casa para jantar, convida as pessoas de verdade para jantarem na sua casa. Não é uma formalidade, é um convite mesmo, com uns cardápios de dar água na boca.
Vamos conferir o texto dela?
Pra quem anda cansado de tentar encontrar novidades nos restaurantes e não quer deixar de ir a um ambiente alegre e divertido e nem de comer de um jeito saudável ou que pelo menos faça valer aquela escapadinha da dieta, sugiro experimentar algo novo, tanto no paladar quanto no astral.
Que tal ir Lá em casa pra jantar?
Para quem não conhece o conceito, explico já! A ideia é simples e junta o prazer de cozinhar com o de bem receber em casa. O que já deixou de ser tendência para virar realidade e tá cheio de gente tentando fazer: jantares em casa com “gente fina, elegante e sincera”. Eu já fiz e é muito bacana.
Funciona assim: eu crio um menu com comidas gostosas, estudo direitinho as harmonizações, os equilíbrios e divulgo com data, preço e o local para acontecer. Não pode ser um evento muito distante porque a oportunidade é agora! Na data marcada, as pessoas que reservaram um lugar à mesa, vêm à minha casa para jantar.
Na última edição em fevereiro, resolvi tematizar o encontro e escolhi um cardápio espanhol para garantir que a conversa iria rolar solta na mesa e as pessoas ficariam super à vontade. Como eu poderia garantir isso? Oras, servindo tapas e pinchos!
As tapas são aquelas comidinhas, tipo aperitivo, que os espanhóis comem acompanhando os drinks da happy hour ou de qualquer hora. É muito comum, em bares e nos boxes de comida, por exemplo, do mercado central de Madri, as tapas rolarem praticamente o dia todo. Um canapé, um espetinho de queijo que cabe na boca, um pequeno naco de linguiça sobre uma rodelinha de pão… são muitas as opções.
Não importa se o que você vai tomar é um choppinho ou uma taça de vinho. Ah! Eu amo os vinhos rosados da Espanha. Aqui no Brasil, uma caipirinha seria uma boa pedida. Há quem prefira uma sangria, As bebidas acompanham o gosto do freguês e os pequenos bocados salgados e muitas vezes com alguma ardência, digo, um toque picante, também.
No último Lá em casa pra jantar servimos oito tapas diferentes: pantumaca*, caviar de berinjela, batatas bravas, espetadinhas de queijo, azeitona e tomate, canapé de calabresa e queijo azul, tortilla, pimenta recheada e grão de bico torrado. Cada uma com seu charme e sua graça, todas adaptadas ou fidedignas às espanholas. Sem deixar, no entanto, de pensar na textura, no equilíbrio gustativo, na variedade, na novidade e na conversa que essas comidas iriam gerar.
Um segredinho de quem quer integrar pessoas é criar assuntos comuns. Comida é assunto. Ao provar algo novo, uma reação quase instantânea acontece. Basta observar. Primeiro vem o olhar buscando cumplicidade e em seguida, muitas vezes, as pessoas querem expressar em palavras o que sentem. Comer, neste caso, é compartilhar com seus pares a experiência, não funcionaria sem trocar uma ideia a respeito da sensação. É coletivo. Tão simples quanto um passe de mágica, a comunicação acontece.
Corre por aí que as tapas são assim chamadas porque os copos eram “tapados”com uma iguaria qualquer pelos garçons e donos dos estabelecimentos para agradar aos clientes enquanto repousavam suas bebidas no balcão entre um gole e outro.
As tapas e os pinchos têm a mesma função, mas a literatura chama de pinchos aqueles pequenos espetos que se comem de uma só vez nos quais quase sempre estão picles, azeitonas, ovinhos de codorna, pedacinhos de queijo, salames ou outra charcutaria.
Por ocasião do evento que faria com tema espanhol, estudei e treinei o jeito de fazer tortillas e servi-las como tapas. As tortillas são muito comuns na Espanha e são como a nossa ou o nosso omelete (já que é um substantivo comum de dois gêneros), só que levam batata na receita.
Confesso que como não sabia fazer tortilhas fui socorrida pela querida amiga Cris Pacino*, que é brasileira de nascimento, meio espanhola de árvore genealógica e escolheu viver na Espanha há alguns anos. Ela me ensinou passo a passo por skype como executar corretamente o prato, inclusive a panela certa que o preparo exige a Cris providenciou para me mostrar como fazer. Que amor!
Acho que aprendi e agora reproduzo a receita. O segredinho é usar uma panela que tenha fundo grosso e sempre ir acertando com uma escumadeira as bordas da fritada. Assim ela ficará arredondada. Mas, tenho mais uma confissão: é preciso treinar bastante. Não é simples, não!
Tortilha Espanhola
Ingredientes
4 ovos inteiros
500 gramos de batatas cortadas em cubos de 2 cm de lado (a quem prefira em rodelas)
250 gramos de cebola fatiada em rodelas
sal a gosto
180 ml azeite de oliva
Modo de preparo
Em uma frigideira antiaderente, com fundo espesso, coloque 2/3 do azeite para esquentar e em seguida acrescente as batatas cortadas e bem secas. Em outra panela, frite a cebola fatiada em imersão no 1/3 restante de azeite até que fique tenra. Polvilhe um pouco de sal na cebola enquanto cozinha no óleo.
Quando as batatas estiverem cozidas, mas ainda firmes, escorra-as para tirar o excesso de azeite. Faça o mesmo com a cebola.
Bata os ovos sem muita força até que formem um pouco de espuma. Acrescente sal a gosto e depois as batatas e a cebola. Coloque tudo na frigideira já com azeite previamente aquecido e deixe dourar de um lado. Com a ajuda de uma tampa, vire a tortilha e deixe dourar do outro lado. Se preciso, repita a operação novamente. Isso pode ocorrer até três vezes de cada lado. Não tenha pressa.
Para servir como tapas, a tortilla deverá estar fria. Agora, se preferir comer logo, coma quente mesmo.
Já sabem, fazer uma tortilla é que nem cozinhar feijão, cada um tem a sua receita.
Tribalistas, “passe em casa, tô te esperando”.
Deixe um comentário