Lisboa é a capital Ibero-americana da Cultura em 2017. Aqui vai um convite para conhecer melhor os laços que nos unem como ibero-américa.
Passado e Presente
Texto do site Lisboa, Capital Ibero-americana.
A cidade de Lisboa foi eleita pela União das Cidades Capitais Ibero-Americanas para ser, em 2017, a Capital Cultural deste universo tão diversificado em termos de geografia, clima, cidadãos, línguas, economias, tradições, práticas culturais, linguagens artísticas, imaginários, legados culturais, criadores e que, no conjunto de todas as cidades, reúne mais de 120 milhões de pessoas oriundas da Península Ibérica, das Américas do Sul, Central, México e dos países das suas diásporas.
Lisboa, hospitaleira e luminosa – atributos internacionalmente reconhecidos – será, ainda mais, um lugar de encontro, uma plataforma de convivialidade e de visibilidade de múltiplas formas de expressão e de outras tantas formas de receção. Não se confinará, contudo, à condição de lugar de chegadas e de partidas, como o anuncia a expressão Passado e Presente que antecede a designação Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura.
Em Lisboa poder-se-ão ver traços, rotas, testemunhos do Passado, nem sempre grandioso, nem sempre heróico. As narrativas das passagens e das presenças dos afrodescendentes transportados para as Américas serão reveladas através dos objetos que aqui foram deixados, vocábulos, topónimos; o mesmo se fará relativamente à presença dos latino-americanos migrantes dos dois lados do Atlântico, em trânsito conforme a maior ou menor adversidade das circunstâncias de um ou outro lado do Atlântico. Serão assim resgatadas, através de muitas atividades, as vidas, as expectativas e, naturalmente, as desilusões de quem aqui passou, parou ou aqui se estabeleceu. Em Lisboa se fará a História do que foi a invenção do Paraíso, os americanos Países de Futuro.
E ao Presente dedicaremos exposições, concertos, lições, cinemas, oriundos de cidades que, muitas vezes, entre si, distarão milhares de quilómetros, com cidadãos que, falando – como línguas da comunidade- o português e o castelhano, utilizam outras línguas maternais ou de adoção, articulando pronúncias diversas, do galego ao guarani. No Presente celebraremos a festividade conjugada com a criatividade e com a reflexão crítica, nem sempre consensual, decerto.
Na programação de Passado e Presente Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura, 2017 estão envolvidos mais de quarenta equipamentos culturais entre os quais os que dependem da Câmara Municipal de Lisboa e do Ministério da Cultura, a que se associaram outros de organizações culturais que responderam, com entusiasmo, à proposta da CML de se envolverem com projetos próprios tendo como referência a Carta Programática de Lisboa.
A programação contará com mais de centena e meia de atividades e nelas participarão centenas de artistas, produtores, professores, divulgadores, para, em conjunto com os lisboetas, construírem a Cidade Cultural.
Uma viagem pelo universo ibero-americano ao longo de 2017
Por onde começar esta viagem pelo universo ibero-americano que vai durar todo este ano de 2017? Haveria tantos princípios possíveis, tantos quantos os pontos de vista, tantos quantas as múltiplas narrativas construídas e em construção. Claro, que nem todas podem ter a mesma validade, porque como se diz em lógica há valores de verdade que determinam quando um argumento está correcto e é convincente.
Este começo, de qualquer modo, terá de ser anterior ao mapa ibero-americano, uma cartografia heterogénea, diversa, contraditória que só existe por convenção entre países que se designaram a eles próprios como pertencentes a esta cartografia cuja matriz seria ibérica. Estamos portanto a falar de uma origem em Portugal e Espanha, e onde as línguas portuguesa e espanhola seriam o sustentáculo desta reunião de países. Mais correctamente deve dizer-se que nos estamos a referir quer às marcas da expansão colonial, quer aos actuais entendimentos com mínimos denominadores comuns entre esses países.
Aceitemos no entanto que esta designação ibero-americana é recente e que a heterogeneidade é uma constante deste universo.
Por onde começar? pois, pode ser pela primeira estrofe de “A formação do céu e da terra”, a cosmogonia dos índios da tribo Marube numa versão recolhida e traduzida por Pedro de Niemeyer Cesarino[1].
Vento de lírio-névoa
O vento envolvido
Ao vento de rapé-névoa
Há tempos flutua
Vento de lírio-névoa
Vai se revolvendo
E Koi Voã surge
[1] In Pedro de Niemeyer Cesarino, “Quando a terra deixou de falar”, Editora 34, S.Paulo, 2013
Ouça também o podcast do programa Emissão em Português sobre o assunto.
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