Quando vou comprar um produto embalado ou não, a primeira coisa que olho é a procedência, depois a validade. Aprendi que quanto mais próximo estiver ao lugar de origem, mais possibilidades de o produto ser fresco.
Em seguida comparo se há similar que seja bio, eco ou orgânico.
Hoje de manhã fui comprar sêmola de trigo e escolhi a do pacotinho “bio”. Me senti orgulhosa de praticar a minha responsabilidade cidadã por preferir tal produto. E também fiquei surpresa com a minha falta de informação sobre o que significaria aquilo. Por que era bio? Por não conter sementes transgênicas? Por não ser tratado com agrotóxicos? A curiosidade levou à pesquisa. A pesquisa virou post.
Na verdade conceitualmente os termos se confundem, e podem ver-se usados indistintamente em várias publicações. Na Espanha os termos bio e eco são muitas vezes intercambiáveis.
Veja quais as principais características dos alimentos bio, eco e orgânicos:
BIO ou BIOLÓGICO
- Não contém nenhum componente alterado geneticamente.
- Não foram realizadas intervenções em laboratório para conseguir o resultado final (como pode ocorrer com algumas frutas ou verduras para conseguir melhor cor, volume, duração)
ECO ou ECOLÓGICOS
- Alimentos cuja procedência está em equilíbrio com o meio, e que minimizem o impacto humano em todas as suas etapas de crescimento e produção:
- Rotação de culturas.
- Limitação do uso de pesticidas sintéticos e antibióticos para o gado.
- Proibição do uso de transgênicos.
- Seleção de espécies vegetais e animais resistentes a doenças.
- Criação de gado em espaços abertos.
- Aproveitamento das condições naturais próximas à zona de cultivo ou de criação.
ORGÂNICOS*
- Produção de alimentos ecologicamente sustentáveis, economicamente viáveis, e socialmente justa.
- Redução de uso de energias não renováveis.
- Eliminação do uso de agrotóxicos e produtos geneticamente modificados (pesticidas, fertilizantes).
- Tudo isso se aplicado em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana.
(*fonte: Instrução Normativa nº 007, de 17 de maio de 1999,e a Lei 659-A de 2000)
E como funciona no Brasil?
O Brasil ocupa o segundo lugar entre os países que mais cultivam variedades geneticamente modificadas de grãos e fibras do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, segundo relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês).
Essa produção se traduz no uso de fungicidas, herbicidas, inseticidas, defensivos agrícolas a grande escala. Os alimentos produzidos de acordo com os princípios e práticas da agricultura convencional (inclui-se transgênicos) normalmente apresentam resíduos dos compostos químicos utilizados, seja pela intensidade da aplicação, seja pelo não cumprimento dos prazos de carência.
Por outro lado, o Brasil é o terceiro maior produtor de alimentos orgânicos do mundo em área cultivada e o o MAPA – Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – incentiva o desenvolvimento sustentável e a agricultura orgânica.
No Brasil usa-se “selo de qualidade” (selo de certificação) juntamente à marca específica de cada produtor, para indicar a concordância com as diretrizes, que são atestadas por certificadoras credenciadas junto ao Colegiado Nacional para a Produção Orgânica (CNPOrg).Isso é a prova de que estabelecer uma ligação entre o consumidor, a história e a origem do produtor e do processo produtivo aproximam a área urbana e a rural. Acredito que esse envolvimento é o que estimulará os consumidores a uma atitude mais comprometida. Atualmente ainda compramos nas feiras e nos hortifrútis produtos sem identidade e, portanto, sem uma história que ligue quem consome a quem produz.
Passar por inspeções e possuir a garantia de qualidade e credibilidade do produto orgânico, são ferramentas que ajudam a que o consumidor aumente sua consciência como comprador e como cidadão.
O aumento do segmento de consumidores com maior renda e com responsabilidade social, que buscam produtos e serviços de alta qualidade, saudável e que leva em conta as considerações em relação ao meio ambiente, faz com que as perspectivas futuras para o setor sejam bastante otimistas. Entretanto, o maior desafio do setor de orgânicos, além da garantia de fornecimento, será oferecer produtos com preços mais acessíveis para a o consumidor.
A tomada de consciência dos consumidores sobre os problemas que os resíduos de agrotóxicos e adubos químicos podem causar à saúde está fazendo com que cresça a demanda e a aceitação de produtos bio-eco-orgânicos. Esse avanço dependerá das políticas governamentais e da pressão dos cidadãos por consumir tais produtos.
Dificuldades do mercado de produtos bio-eco-orgânicos
Os principais entraves na produção desses alimentos se devem à baixa escala de produção:
- Alto custo de mão de obra e insumos.
- Falta de incentivo governamental para os produtores (créditos, insumos, impostos, treinamento).
- Desorganização do sistema de produção e a demanda do mercado por produtos “fora de época”.
- Distribuição e comercialização.
- Embalagem.
Vai sendo momento de trabalhar com um modelo de agricultura que plante a vida, de respeitar os limites da natureza e de cultivar em harmonia com um planeta mais saudável. Afinal, somos o que comemos?
Mais informações:
Embrapa fala de Alimentação sustentável nos Jogos Olímpicos.
Pesquisa – O mercado brasileiro de produtos orgânicos (2011)
Sistema orgânico de produção de alimentos
Agronegocio brasileiro em números (2010 e projeção)
Organics Brasil
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