Era uma segunda-feira, 5 da tarde, 8º andar, escritório em casa. Estava eu mergulhada na revisão de uma redação embutida num monitor, quando fui surpreendida por ele.
Foi tudo muito de repente: minha cadeira trepidou como se uma mão tivesse mexido de esquerda para direita num instante frenético, agitado porém silencioso. O computador acompanhou o balanço ao mesmo ritmo.
O súbito reflexo de sobrevivência foi respirar muito devagarinho, só o necessário para que os sentidos me dissessem o que estava acontecendo. Olhei de soslaio para trás. Comprovei que continuava só no meu escritório. Esperei um eterno minuto para por fim levantar-me da cadeira.
Durante essa eternidade os pensamentos passavam como trens bala:
Primeiro, a possibilidade de ser o vento o causador de tamanho abalo. Seria possível ventar tanto a ponto de balançar um prédio de mais de 50 anos? Já tinha acontecido antes? Continuei em silêncio esperando ouvir o vento que sempre uiva na minha janela. Nada de uivos, nada de nada.
Segundo, devo estar variando. Isso não aconteceu realmente, com certeza estava com fome e foi um momento de tontura. Lembrei que tinha almoçado bem. Vertigem não era.
A mão esquerda já estava segurando a mochila, que continha meus pertences mais básicos para a sobrevivência de última hora: documentos, cartão do banco, telefone, chaves. O impulso de sair correndo foi contido pela tentativa de raciocinar.
Pensei em me tranquilizar. Me tranquilizei. Decidida levantei e abri a janela, para comprovar que era o vento, excepcionalmente forte nesse dia.
Janela aberta, veio um arzinho, tão tímido que nem sequer se podia chamar ventania.
Aí então foi quando comecei a ficar realmente preocupada. Se não era o vento, se eu estava sozinha, então o que foi aquilo? Alucinação? Estava precisando ver um médico? Iria desmaiar a qualquer momento? Quais eram os sintomas do estresse? Mas eu estaria estressada mesmo?
Respiração “meio” normal, decidi ir até a cozinha tomar um pouco de água, esse milagre da natureza que alivia muitos males. Tomei, voltei à mesa de trabalho e tudo continuava igual. Nada se mexia. Nem tinha se mexido sozinho.
Impulsivamente, querendo escapar do medo, abri o Facebook em busca de comunicação com alguém. Fiquei sabendo por uma amiga que acabava de ocorrer um terremoto a 400 km, e que havia sido sentido no centro de Madri, onde moro.
Nesse momento me invadiu uma tranquilidade tão, mas tão grande, que comecei a rir sozinha, boba que fiquei. Me senti aliviada, iluminada, acalmada. Fiquei muito contente de saber que tinha sido um abalo sísmico, e principalmente de constatar que eu não estava delirando. (risos)
O terremoto não teve consequências graves. Tanto que minutos depois muitas pessoas estavam publicando comentários nas redes e até fizeram uma camiseta comemorando o fim do terremoto com bastante humor.
Terremoto
Segundo informado, o centro do tremor foi a 10 km de profundidade da cidade onde foi detectado, Ossa de Montiel, na província de Albacete, que fica a 400 km de Madri. Foi um terremoto de escala 5,2 na escala Mw.
Quando falamos de terremotos, sabemos que existe a escala Richter, e descobri a escala Mw. De maneira muito simplificada:
Escala Richter
- Desenvolvida para medir a magnitude dos terremotos, que consiste no ato de quantificar a energia liberada no foco do terremoto. (1)
- Criada em 1935 pelo sismólogo estadunidense Charles F. Richter, integrante do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Para a realização de sua escala, Richter analisou as ondas sísmicas e coletou números de vários terremotos anteriormente registrados.
Escala de Magnitude do Momento (Mw)
- Se baseia na medição da energia total que se libera num sismo.
- Introduzida em 1979 por Thomas C. Hanks e Hiroo Kanamori como sucessora da escala Richter. (2)
Esta última é a mais usada pelos peritos para medir e comparar terremotos de grandes proporções. No centro Nacional de Informação Sísmica (National Earthquake Information Center) dos EUA, que pertence ao Serviço Geológico dos EUA (USGS) utiliza esta escala para a medição de terremotos de magnitude superior a 6,9.
Apesar disso, a Richter é a mais popular nos meios de comunicação. Portanto, é comum que a imprensa comunique a magnitude de um sismo em “escala Richter” quando este foi em realidade medido com escala de magnitude de momento. Em alguns casos isto não é um erro, já que há coincidência de parâmetros de ambas escalas. Entretanto, recomenda-se indicar simplesmente “magnitude” e evitar a expressão “escala Richter”.
No Brasil
Ao contrário do que se pode pensar, no Brasil também ocorrem terremotos, porém de pouca magnitude. O país fica numa zona intraplacas tectônicas, ou seja, tem maior estabilidade por estar afastado das zonas de contato ou de separação de plataformas.
A ilustração nos ajuda a entender melhor. As setas vermelhas indicam o sentido de movimento das placas.
Confira os abalos sísmicos em tempo real no mundo inteiro e no Brasil.
(1) fonte
(2) fonte
Sueli
Cris, não foi segunda-feira!??!!
Cristina Pacino
Isso mesmo! Obrigada! Já mudei o dia no post.