Que boa notícia! A Celina Moraes aceitou o convite para nos contar o que é ser escritora. Uma pessoa marcante, que me ensinou muito quando trabalhamos juntas há anos, e quem sigo um pouquinho todos os dias quando dou forma escrita às ideias.
Celina é Tradutora e Editora de uma multinacional. Inquieta, curiosa, apaixonada pelas letras e pelas estórias. Vamos conferir o que ela tem para nos contar?
Conte em breves linhas a quem não conhece, o que é ser escritora.
Ser para mim é ser verdadeira comigo mesma. Posso mentir ou omitir algo de alguém, mas jamais minto para mim mesma. Essas palavras são a base da minha existência.
Já ser escritora é permitir ser quem não sou, criar tramas, intrigas e paixões e, sobretudo, saber que minhas palavras podem ajudar a aumentar o amor pela leitura, servir de acalento para horas difíceis e ser uma diversão.
Enfim, ser escritora, para mim, é caminhar com “espíritos” ao meu lado pedindo uma estória e quando eles ganham “vida” me sentir abençoada por ter nascido com o dom da segunda das artes.
Como e quando você começou a sua profissão / oficio?
Segundo Fernando Pessoa, “ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação”. Dos 12 aos 18 anos, tive Diários e ali começou a paixão pela escrita. Por 20 anos, acumulei muitos rascunhos no lixo, até transformá-los no meu primeiro romance “Lugar cheio de rãs” que lancei de forma independente em 2009.
Como é vista a sua profissão no Brasil? E fora dele?
Apesar das estatísticas brasileiras mostrarem que no país se lê pouco, eu consegui com meu primeiro romance que algumas pessoas lessem um livro pela primeira vez. Perguntei se fizeram isso por mim. Confessaram que no início abriram o livro por mim, mas só o terminaram pela estória. E muitas dessas pessoas já leram outros livros. Acho que a maneira como se apresenta a leitura e o autor pode contribuir para atrair novos leitores. A parte difícil é uma escritora desconhecida encontrar uma editora. Acredito que se tivesse meu livro publicado por uma editora de mercado, eu atrairia mais novos leitores como provei pelo meu círculo de relacionamentos. Ter meu livro nas livrarias brasileiras continua sendo uma grande batalha.
Acredito que mesmo nos países com índices elevados de leitura, os escritores desconhecidos têm dificuldades de encontrar uma editora para lançar sua primeira obra.
Por isso, não basta persistir nessa busca, é preciso insistir na persistência.
O que você recomenda aos que estão começando no setor?
Como disse J. Ruskin: “os livros podem ser divididos em dois grupos: aqueles da hora e aqueles de sempre.” Eu acredito que se o tempo é curto, o ideal é se focar nos 10 primeiros da lista das listas que a Newsweek publicou originalmente em 2009 e que, para mim, será sempre os de sempre. Abaixo estão eles:
- Guerra e Paz, Liev Tolstói, 1869
- 1984, George Orwell, 1949
- Ulisses, James Joyce, 1922
- Lolita, Vladímir Nabókov, 1955
- O Som e a Fúria, William Faulkner, 1929
- O Homem Invisível, Ralph Ellison, 1952
- Rumo ao Farol, Virginia Woolf, 1927
- Ilíada e Odisseia, Homero, século VIII a.c.
- Orgulho e Preconceito, Jane Austen, 1813
- A Divina Comédia, Dante Alighieri, 1321
Bate-bola
O melhor da profissão:
Poder criar na ficção as histórias que você gostaria de ter vivido na vida real.
E o pior:
Entrar nas livrarias e não ver seu livro exposto.
Um gênio na matéria / fonte de inspiração:
Além dos 10 livros acima, tenho como livros de cabeceira os seguintes:
- A arte de escrever, Schopenhauer
- A arte do romance, Henry James
- A voz do escritor, A.Alvarez
- As 36 situações dramáticas, Georges Polti
- A jornada do escritor, Christopher Vogler
- Bartleby e companhia, Enrique Vila-Matas
- Cartas a um jovem escritor, Mario Vargas Llosa
- Cartas a um jovem poeta, Rainer Maria Rilke
- O herói de mil faces, Joseph Campbell
- O escritor e seus fantasmas, Ernesto Sabato
- Stream of consciousness in the modern novel, Robert Humphrey.
O que sua profissão não é:
Uma balada.
Você pode até escrever em um lugar com muitas pessoas ao seu redor, mas precisará estar a sós e em silêncio em algum canto. Escrever e falar ao mesmo tempo não é possível, a não ser falar com você mesmo. Se a pessoa tem dificuldades de estar na companhia dela, será difícil ser escritor ou escritora.
Samuel Johnson escreveu que é preciso folhear meia biblioteca para fazer um livro. Esse folhear requer concentração e atenção, o que é um trabalho solitário. Mas o lançamento de um livro pode ser uma grande balada (rs).
Uma virtude para exercer a sua profissão:
As obras refletem a alma de quem as escreveu. Como vocês já notaram, adoro citações e encerro com a de Georg Christoph Lichtenberg sobre o tema:
“Um livro é como um espelho: quando é um macaco que se olha nele,
não pode ver refletido nenhum apóstolo.”
Para saber mais sobre a carreira de escritora de Celina Moraes, visite seu site.
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