Sexta-feira 13 de maio de 2016.
Depois de uma semana bem conturbada na política brasileira, chego em casa do trabalho e, para espairecer, vou cuidar das plantas.
A morte da orquídea
Entre algumas plantas, tenho 6 orquídeas. A mais velha foi um presente de um antigo chefe, em 2007, quando pedi demissão do trabalho ele me deu a flor com um cartãozinho de agradecimento.
Foi muito simpático da parte dele, e eu tinha que acabar aquela etapa para começar uma nova. Queria concluir o que para mim já estava obsoleto para que algo novo nascesse.
E a orquídea mais nova vi por acaso na frente do lixo de casa. Estava meio jogada no chão, e se notava que alguém tinha desfeito um apartamento inteiro e jogado fora até as plantas. Chuto muito por cima que faz uns 2 anos, e quando vi a planta abandonada o impulso foi de levá-la para casa e dar-lhe as condições para que ela pudesse viver.
E foi o que aconteceu. Ela continuou com as poucas folhas que lhe restavam, mas sempre foi a mais fraquinha de todas.
Nessa sexta, quando fui adubar e regar as orquídeas, olhei bem pra ela e vi que 1 das 3 únicas folhas estava totalmente seca, e outra estava indo para o mesmo caminho. Então, como se tivesse uma lupa imaginária, olhei com atenção pra ver oque ocorria. Levei uma surpresa enorme: 2 folhas minúsculas estão brotando! Verdes e brilhantes, saindo daquela planta abandonada, há uma nova vida!
Ela está deixando o que é inútil morrer, e dando lugar ao novo! É a figura de linguagem feita realidade: o nascer da morte.
A carta da morte: qual é a cara da morte?
E pensando na morte lembrei da carta do tarô que leva esse nome.
A carta da morte significa a interrupção abrupta de um processo e mostra que mudanças involuntárias irão ocorrer e que não se deve tentar impedi-las, pelo contrário, é melhor aceitá-las.
É a carta da transformação, do desapego e do fim dos ciclos. A carta da passagem para outra realidade, que pode vir como um duro golpe. Purificação através da dor, nada de ruim virá depois da morte.
É de arrepiar, né? Como a nossa cultura ocidental sempre tratou a morte como algo triste e funesto. Se no fim, o que muda, muda pra gente aprender ou reconsiderar.
Savasana, postura do cadáver = a morte na yoga
Quem faz yoga sabe que normalmente no fim da aula sempre há o momento do “relaxamento”, quando os alunos se deitam no chão e ficam numa das posturas mais fáceis e pronunciáveis de todas, savasana, sendo sava=cadáver e asana= postura. É a postura do morto, ou do cadáver.
É a postura que se faz ao final da prática porque é quando já terminamos as demais e que mais que descansar, o objetivo dessa asana
é deixar ir, render-se, entregar-se a uma série de pequenas mortes: dos preconceitos, do pré-concebido, do ego, do medo, da separação.
Matar o inútil. Para que o novo tenha lugar. Essa postura nada mais é que a representação da vida: se começa com uma energia e se termina com outra. E assim se aprende a deixar ir todos os dias um pouco, até que a ideia de morte não seja algo feio, alheio a nós mesmos, e sim algo cotidiano.
A morte de um Brasil
O Brasil está em crise. Econômica, política, moral e institucional.
Crise vem do latim crisis, -is, do grego krísis, -eós, e significa ato de separar, decisão, julgamento, evento, momento decisivo.
Estamos assistindo a um espetáculo nada usual no Brasil: os conceitos estão morrendo e assim nascendo uma nova visão.
Com tantas manifestações, tenho certeza que nas próximas eleições nós, brasileiros, estaremos mais atentos ao votar, e até ter uma opinião formada sobre o que queremos, para onde pretendemos ir. Dizer e gritar “fora fulano, fora ciclano” é uma pequena parte de algo muito maior que tem que sair à tona. O brasileiro está desejando mudança!
É muito sadio e ótimo para o país que reveja seus conceitos e acredito que vamos defender melhor nossos direitos.
A única coisa perigosa é que a grande massa se deixe levar somente pelo que lê nos jornais, impressos ou online.
Temos todos internet. Com isso podemos consultar fontes diversas, perguntar, trocar ideias com pessoas em qualquer canto do mundo, e a partir daí abrir nossas mentes para o novo.
Como aquele 13 de maio foi para inglês ver, este será para os brasileiros e para o mundo inteiro ver que podemos, e vamos transformar o nosso país e a nossa nação para melhor.
Para isso, temos que eliminar certas opiniões, análises, julgamentos, conceitos velhos, enrugados, secos e rançosos, para dar espaço pro fresco, pro novo, que vem pelo ar.
Abramos os olhos, deixemos morrer! Reinventemo-nos!
https://www.youtube.com/watch?v=EPuH2jzD6io
Esse foi o último trabalho do Cazuza, que insistiu em aparecer em público depois de ter contraído AIDS, fim dos anos 80, numa época em que ninguém se atrevia a sequer assumir que tinha a síndrome da imunodeficiência adquirida. Foram tempos duros, e se nota uma lucidez tremenda nos seus olhos. Quanta força tinha esse rapaz! No meio desse turbilhão de emoções, ele ainda “trazia boas novas”.
“Boas Novas” (Cazuza)
Poetas e loucos aos poucos
Cantores do porvir
E mágicos das frases
Endiabradas sem mel
Trago boas novas
Bobagens num papel
Balões incendiados
Coisas que caem do céu
Sem mais nem porquêQueria um dia no mundo
Poder te mostrar o meu
Talento pra loucura
Procurar no peito
Eu sempre fui perfeito
Pra fazer discursos longos
Fazer discursos longos
Sobre o que não fazer
Que é que eu vou fazer?Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva – viva!Direi milhares de metáforas rimadas
E farei
Das tripas coração
Do medo, minha oração
Pra não sei que Deus “H”
Da hora da partida
Na hora da partida
A tiros de vamos pra vida
Então, vamos pra vidaSenhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva – viva!
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